Roteiro de leitura...

Ø  .... PARA AS LEITORAS DE ANA TERRA.


ANA TERRA, extrato da trilogia O tempo e o vento, é o retrato, por vezes cruel, da vida dos primeiros povoadores do Rio Grande do Sul, em meados do século XVIII. Concentrando-se na personagem que dá nome ao livro, Ana Terra, Erico Veríssimo nos convida a acompanhar de perto, num relato emocionante, as vicissitudes de uma família de estancieiros, chefiada por um homem para quem a vida é só trabalho e seriedade. Em meio a incontáveis provações e perigos, Ana Terra revela-se uma mulher incansável, corajosa, de formidável têmpera.

1. Como era a vida de Ana Terra na estância, antes da chegada de Pedro. Encontre uma passagem no texto que ilustre esse tipo de vida.
2. Descreva, em algumas linhas, a personalidade de Maneco Terra. Encontre, no texto, uma passagem significativa para demonstrar seu modo de viver e pensar.
3. O preconceito de Maneco Terra contra os índios era evidente, quando ele dizia “Índio é bicho traiçoeiro”. Você acha que Pedro corresponde ao estereótipo que Maneco criara? Justifique sua resposta.
4. Há outras frases ditas por Maneco, outros preconceitos, sobretudo quanto à mulher. Retire do texto alguma frase que o exemplifique.
5. Ana Terra não teve pena quando sua mãe morreu? Por quê?
6. Ana teve uma vida repleta de duros momentos. Na sua opinião, qual foi o pior deles?

Ø  ... PARA OS LEITORES DE UM CERTO CAPITÃO RODRIGO.


Em UM CERTO CAPITÃO RODRIGO, encontram-se personagens marcantes como Ana Terra e Capitão Rodrigo. Este se casa com Bibiana, neta de Ana Terra, unindo as famílias Terra e Cambará, que vivem em permanente conflito com os Amaral. Amante da liberdade e partidário dos ideais farroupilhas, o protagonista questiona a ordem vigente e une-se ao grupo de Bento Gonçalves para enfrentar as forças governistas e seus aliados.

1. Nesta obra, o leitor pode encontrar personagens que representam diversos grupos sociais que formavam a sociedade rio-grandense no início do século XIX. Identifique os principais personagens e o grupo a que pertencem.
2. Ricardo Amaral encarna a figura do caudilho, chefe militar e político de Santa Fé e região adjacente.  Retire do texto algum fragmento que exemplifique o poder e o modo de agir dessa família.
3. Pode-se estabelecer uma relação de oposição entre Rodrigo e Juvenal Terra. Caracterize esses personagens física e psicologicamente.
4. Rodrigo representa um padrão de comportamento masculino. Quais eram as tarefas destinadas aos homens?
5. Assim como Rodrigo, Bibiana também representa um padrão de comportamento feminino. Qual era o papel da mulher naquela época?
6. “Estrangeiro é bicho sem-vergonha” (capítulo 22). Essa frase resumo o sentimento do povo de Santa Fé em relação a Helga e sua família. Qual é o motivo dessa reação negativa?

Questões tiradas da obra de Veríssimo, publicada pela editora Globo, 2002.

GABARITO


ANA TERRA
1. A vida Ana Terra era triste e solitária, repetitiva e pacata.Ela ajudava sua mãe nos afazeres domésticos. Costumava ir ao rio (sanga) para lavar roupa.
"Ana Terra descia a coxilha no alto da qual ficava o rancho da estância, e dirigia-se para a sanga, equilibrando sobre a cabeça uma cesta cheia de roupa suja, e pensando no que a mãe sempre lhe dizia: "Quem carrega peso na cabeça fica papudo". Ela não queria ficar papuda. Tinha vinte e cinco anos e ainda esperava casar. Não que sentisse muita falta de homem, mas acontecia que casando poderia ao menos ter alguma esperança de sair daquele cafundó, ir morar no Rio Pardo, em Viamão ou até mesmo voltar para a Capitania de São Paulo, onde nascera. Ali na estância a vida era triste e dura. Moravam num rancho de paredes de taquaruçu e barro, coberto de palha e com chão de terra batida."

2. Maneco Terra era um homem que nutria esperança de melhorar de vida através da terra. Era trabalhador e honesto. Não se conformava com o fato de terras seres doadas sempre aos mesmo homens.Ele tinha um "gênio de mula".
"Maneco recordava sua última visita a Porto Alegre, onde fora comprar ferramentas, pouco antes de vir estabelecer-se ali na estância. Achara tudo uma porcaria. Lá só valia quem tinha título, um posto militar ou então quem vestia batina. Esses viviam a tripa forra. O resto, o povinho, andava mal de barriga, de roupa e de tudo. Era verdade que havia alguns açorianos que estavam enriquecendo com o trigo. Esses prosperavam, compravam escravos, pediam e conseguiam mais sesmarias e de pequenos lavradores iam se transformando em grandes estancieiros. Mas o governador não entregava as cartas de sesmaria assim sem mais aquela... Se um homem sem eira nem beira fosse ao paço pedir terras, botavam-no para fora com um pé no traseiro. Não senhor. Terra é para quem tem dinheiro, pra quem pode plantar, colher, ter escravos, povoar campos.
Maneco ouvira muitas histórias. Pelo que contavam, todo o Continente ia sendo aos poucos dividido em sesmarias. Isso seria muito bom se houvesse justiça e decência. Mas não havia. Em vez de muitos homens ganharem sesmarias pequenas, poucos homens ganhavam campos demais, tanta terra que a vista nem alcançava".
"- Não criei filho pra andar dando tiro por aí. O melhor é vosmecê ficar aqui agarrado ao cabo duma enxada. Isso é que é trabalho de homem."
"Maneco Terra era um homem que falava pouco e trabalhava demais. Severo e sério, exigia dos outros muito respeito e obediência, e não admitia que ninguém em casa discutisse com ele. "Terra tem só uma palavra", costumava dizer. E era verdade. Quando ele dava a sua palavra, cumpria, custasse o que custasse."

3. Espera-se que todos tenham percebido que não. Embora a aparência física de Pedro denuncie sua descendência indígena, sua fala revela forte influência dos castelhanos.Além disso, seu conhecimento cultural revela que Pedro tem bagagem muito além da esperada para um índio. Isso se deve pelo fato de Pedro ter sido criado por padres missionários. Pedro era mestiço de índio e branco.

4. "O velho Terra pigarreou, mexeu-se na cadeira e respondeu seco: 
- Mas tem três homens e três espingardas em casa pra defender a moça."
"Não sentia pena dele. Por que havia de ser fingida? Não sentia. Agora ele ia ver o quanto valia a mulher que Deus lhe dera. Agora teria que apoiar na nora ou nela, Ana, pois precisava de quem lhe fizesse comida, lavasse a roupa, cuidasse da casa. Precisava de alguém a quem pudesse dar ordens, como a uma criada."

5.Ana não sentiu pena, porque a morte de sua mãe significou a liberdade dela e, por isso, sentiu certa felicidade por ver que finalmente a mãe poderia descansar. Além disso, o sentimento de rancor que nutre em relação ao pai reforça a ideia de que ela queria bem a mãe, por esse motivo deseja que ela fosse livre. Essa liberdade somente foi possível com a morte.
"Ana não chorou. Seus olhos ficaram secos e ela estava até alegre, porque sabia que a mãe finalmente tinha deixado de ser escrava. Podia haver outra vida depois da morte, mas também podia não haver. Se houvesse, estava certa de que Dona Henriqueta iria para para o céu; se não houvesse, tudo ainda estava bem, porque sua mãe ia descansar para sempre. Não teria mais que cozinhar, ficar horas e horas pedalando a roca, em cima do estrado, fiando, suspirando e cantando as cantigas tristes de sua mocidade."


6. Resposta pessoal. O estupro coletivo exemplificaria um dos momentos mais duros na vida de Ana Terra.

UM CERTO CAPITÃO RODRIGO
1. Capitão Rodrigo Cambará - Encarna o código de honra do gaúcho, mediante os atributos de coragem, impetuosidade, machismo, violência física e um relativo conceito de moral. Gosta de jogos e bebidas (soldados).
Bibiana - Neta de Ana Terra, mulher do capitão Rodrigo Cambará. Como a avó, Bibiana é a mulher generosa, sólida, sofrida (mulheres).
Juvenal Terra - irmão de Bibiana e amigo do Capitão Rodrigo Cambará (comerciantes).
Pedro Terra - Pai de Bibiana Terra. Não aprova o casamento de sua filha com o Capitão Rodrigo Cambará (agricultores).
Padre Lara – pároco de Santa Fé (clero).
Coronel Ricardo Amaral – líder político e militar de Santa Fé (políticos).
Bento Amaral – filho do coronel Ricardo (políticos).

2. “Os forasteiros que chegavam a Santa Fé e deitavam os olhos nela, ao saberem-na ainda solteira, exclamavam: ‘Mas que é que a rapaziada desta terra está fazendo?’ E então ouviam histórias... Bento Amaral, filho do coronel Ricardo Amaral Neto, senhor dos melhores e mais vastos campos dos arredores do povoado”.
“Tinha até queixas do velho Ricardo, que lhe tirara as terras e se recusara a ajudá-lo quando o trigo fora águas abaixo. Além disso, achava os Amarais prepotentes, vaidosos, gananciosos [...]”
“Fosse como fosse, os Amarais eram por assim dizer os donos de Santa Fé.”
“Os Amarais exigiram a devolução das terras, pois ele não pudera cumprir o prometido no seu compromisso de compra.”
“- Se vosmecê chega a um povoado como o nosso, não pode proceder como se estivesse ainda num campo sem dono nem lei. Tem de se submeter às autoridades.
- E quem é a autoridade aqui?
- O coronel Ricardo Amaral Neto. Era bem o que eu esperava - concluiu Rodrigo. O padre trabalhava para o mandachuva da terra. Naturalmente fora o velho Amaral quem mandara construir a igreja, quem comprara as imagens, quem dava ao vigário casa para morar. Não seria de admirar que o padre Lara usasse o confessionário para arrancar dos habitantes do lugar informações do interesse do chefete de Santa Fé. Rodrigo conhecia casos...”

3. Juvenal – homem moreno e rude, da terra, trabalhador. Embora não seja um homem de brigas, não costuma levar desaforos. Possui alguns pensamentos semelhantes aos do pai.
Capitão Rodrigo – tinha olhos azuis. “Um dia chegou a cavalo, vindo ninguém sabia de onde, com o chapéu de barbicacho puxado para a nuca, a bela cabeça de macho altivamente erguida, e aquele seu olhar de gavião que irritava e ao mesmo tempo fascinava as pessoas. Devia andar lá pelo meio da casa dos trinta, montava um alazão, trazia bombachas claras, botas com chilenas de prata e o busto musculoso apertado num dólmã militar azul, com gola vermelha e botões de metal. Tinha um violão a tiracolo”.

4. Aos homens cabia participar das decisões políticas, de batalhas e guerras. Além disso, eles deveriam prover o sustento da família.

5. Filhos e cuidados com a casa eram tarefas que deveriam ser feitas exclusivamente pelas mulheres. Estas deveriam ser obedientes aos maridos.

6. Essa reação negativa surgiu pelo fato de Helga ter se envolvido amorosamente com Rodrigo, mesmo este sendo casado e ela estando para casar. Além disso, ela teria partido sozinha com o noivo para unirem-se em matrimônio em outro lugar. Essas ações eram “liberais” para os costumes de Santa-Fé.

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