Simulado UERJ
Língua e linguagem são
os temas deste simulado. Será que temos consciência dos mecanismos lógicos que
os atos de escrever e falar exigem?
COM BASE NO TEXTO ABAIXO, RESPONDA ÀS
QUESTÕES DE NÚMEROS 01 A
05
Texto 1
TROPEÇOS
A GRAÇA E A LÓGICA DE CERTOS ENGANOS DA FALA
O compenetrado pintor de paredes
olhou as grandes manchas que se expandiam por todo o teto do banheiro do
nosso apartamento, as mais antigas já negras, umas amarronzadas, outras
esverdeadas, pediu uma escada, subiu, desceu, subiu, apalpou em vários pontos
e deu seu diagnóstico:
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5
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¾ Não adianta
pintar. Aqui tem muita “humildade”.
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Levei segundos para compreender que ele queria dizer “umidade”. E
consegui não rir. Durante a conversa, a expressão surgiu outras vezes , não
escapara em falha momentânea.
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10
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Há palavras que são armadilhas para
os ouvidos, mesmo de pessoas menos humildes. São captadas de uma forma,
instalam-se no cérebro com seu aparato de sons e sentidos ¾ sons parecidos e
sentidos inadequados ¾ e saltam frescas e absurdas no meio de
uma conversa. São enganos do ouvido, mais do que da fala. Como o tropeção de
uma pessoa de boas pernas não é um erro de caminhar, mas do ver.
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Resultam muitas vezes formas
hilárias. O zelador do nosso prédio deu esta explicação por não estar o
elevador automático parando em determinados andares:
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¾ O computador entrou em “pânico”.
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Não sei se ele conhece a palavra
“pane”. Deve ter sido daquela forma que a ouviu e gravou. Sabemos que é
“pane”, ele assimilou “pânico” ¾ a coisa que nomeamos é a mesma, a
comunicação foi feita. Tropeço também é linguagem.
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20
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O cheque bancário é freqüentemente
vítima de um tropicão desses. Muita gente diz, no final de uma história de
esperteza ou de desacordo comercial, que mandou “assustar” um cheque. Pois
outro dia encontrei alguém que mandou “desbronquear” o cheque. Linguagens...
Imagino a viagem que a palavra “desbloquear” fez na cabeça da pessoa: a troca
comum do “l” pelo “r”, a estranheza que se seguiu, o acréscimo de um “n” e
aí, sim, a coisa ficou parecida com alguma coisa, bronca, desbronquear, sem
bronca. Muita palavra com status de dicionário nasceu assim.
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25
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30
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Já ouvi um mecânico que o motor do
carro estava “rastreando”, em vez de “rateando”. Talvez a palavra correta lhe
lembrasse rato e a descartara como improvável. “Rastrear” parecia melhor
raiz, traz aquela idéia de vai e volta e vacila, como quem segue um rastro...
Sabe-se lá. Há algum tempo, quando eu procurava um lugar pequeno para morar,
o zelador mostrou-me em quarto-e-sala “conjugal”. Tem lógica, não? Muitos
erros são elaborações. Não teriam graça se não tivessem lógica. [...]
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(ÂNGELO, Ivan. Tropeços. Veja-SP, São Paulo: Abril, 23
abr.2003)
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Questão 01
O
vocábulo destacado pode ser substituído pela palavra indicada, sem que haja
alteração de sentido em:
a)
“[...]instalam-se no cérebro com seu aparato
de sons e sentidos[...]” (linha 9) – simplicidade
b)
“O compenetrado pintor de
paredes olhou as grandes manchas[...]” (linha 1) – comportado
c)
“Muitos erros são elaborações.”
(linha 30) – misturas
d)
“[...]como quem segue um rastro...”
(linha 28) – vestígio
Questão 02
Na composição
da narrativa, certos elementos lingüísticos explicitam circunstâncias diversas,
imprimindo coerência ao texto.
O
fragmento que apresenta um desses elementos sublinhados e a circunstância por
ele expressa é:
a)
“Há algum tempo, quando eu procurava um lugar pequeno para morar [...]”
(linha 29) – tempo
b)
“Não teriam graça se não tivessem lógica. [...]” (linha 30-31) –
concessão
c)
“Há algum tempo, quando eu procurava um lugar pequeno para morar [...]”
(linha 29) – conseqüência
d)
“[...] olhou as grandes manchas que se expandiam [...]” (linha 1) -
explicação
Questão 03
A
principal conclusão a que o narrador-personagem parece chegar está presente na
seguinte alternativa:
a)
Os erros geralmente se originam de falhas momentâneas da memória lingüística de
um falante.
b) Uma grande parte dos erros cometidos
pelos falantes de uma língua evidencia um raciocínio lingüístico lógico.
c) Os erros cometidos pelos falantes
poderiam ser facilmente resolvidos com o uso do dicionário.
d) A ocorrência maior ou menor dos erros
está intimamente relacionada ao grau de escolaridade do falante.
Questão 04
Na
crônica, o autor faz considerações sobre o modo de proceder dos falantes diante
de palavras desconhecidas. Para demonstrar sua opinião a respeito desse fato
lingüístico, usa como recurso principal:
a) A
apresentação de informações pressupostas ou subentendidas.
b) a citação de dados científicos e
estatísticas.
c) o relato de exemplos e casos concretos.
d) a caracterização pormenorizada de
personagens.
Questão 05
A crônica
de Ivan Ângelo é um relato bem-humorado acerca dos enganos da fala. A frase que
melhor sintetiza as idéias desse relato é:
a)
“Resultam muitas vezes formas hilárias [...]” (linha 13)
b) “Muita
palavra com status de dicionário nasceu assim.” (linha 24-25)
c) “¾ O computador entrou em ‘pânico’.”
(linha15)
d) “Tropeço também é linguagem.” (linha 18)
COM BASE NO TEXTO ABAIXO, RESPONDA ÀS
QUESTÕES DE NÚMEROS 06 A
10
Texto 2
SEM ESTRONDO
Todos
sabem que as línguas mudam. Claro que é mais fácil aceitar uma mudança antiga
do que uma que ocorra diante de nossos olhos. Ninguém reclama de a palavra
“muliere” ter se tornado a palavra “mulher”, de a palavra “ecclesia” ter
mudado para “igreja”, mas achamos o fim da picada a hipótese de a palavra “mulher”
mudar para “muié”, ou de a palavra “classe” mudar para “crasse”. Fomos
educados para considerar que, nesses casos, se trata de decadência, de piora
da língua, de puro relaxo do povo. Essa atitude funciona em relação a muitos
campos, como o dos costumes. Não há porque esperar que nosso comportamento
seja diferente no caso das línguas.
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É mais fácil aceitar as mudanças
quando elas ocorrem sem que se perceba (não porque não se possa percebê-las,
diga-se, mas porque, eventualmente, estamos desatentos ou não somos treinados
para perceber tudo). Isso vale para muitos campos (escola, TV, formas de
trabalho, etc.), e vale também para as línguas.
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A escola está aí para,
supostamente, educar. No caso da língua, ela deveria ser capaz de formar
estudantes que venham a exibir na escrita a mesma habilidade que os
caracteriza quando falam. Não consegue. Em boa parte porque fica procurando
problemas onde não existem – a escola gosta de enxugar gelo.
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Já se sabe que se aprende uma língua
falada sem estudá-la. No caso da escrita, ou já se é um profissional (vamos
esquecer como se chega lá), ou se exige um razoável grau de consciência, bem
maior que o exigido para falar. Isso porque os padrões e os valores
associados à escrita estão longe da experiência cotidiana, porque a escrita é
muito (muito mesmo) conservadora. Mal o aluno está se iniciando nos segredos
dessa modalidade e a escola exige dele o comportamento de um profissional do
século passado com residência
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Estou dando toda esta volta para
preparar um pequeno comentário sobre um fato que anotei lendo “O Estado de S.
Paulo”. Trata-se de um jornal conservador não só na política, mas também,
talvez principalmente, na linguagem. Pois foi exatamente no editorial do dia
11/03/2000 que, comentando o comportamento dos juros americanos e a política
recente da OPEP, ambos com reflexos no nosso bolso, o vetusto jornal escreveu
que “o aquecimento excessivo da economia americana faz ele perder o sono com
ameaça de inflação” (ele, no caso, é Alan Greenspan).
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Pois é. Apesar da escola, apesar do
conservadorismo do jornal, apesar do manual de estilo, apesar da rigorosa
supervisão de Eduardo Martins, aí está o “faz ELE perder”.
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Claro que a construção não é
estranha. É provável que muitos sequer percebam que “deveria” ser estranha.
Mas a escola diz que é. As gramáticas dizem que é. O Manual do Estadão deve
dizer que é. Que o correto seria “fá-lo perder o sono”. Alguns acharão até
feio, pensarão que há um cacófato. Talvez tenham razão.
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A moral é que “ele” tem cada vez
mais cara de objeto. As formas oblíquas estão desaparecendo. Até no Estadão.
Melhor: sem que ele saiba.
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(POSSENTI, Sírio.
Mal comportadas línguas. Curitiba: Criar Edições, 2000, p.27-29)
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Questão 06
O
texto de Sírio Possenti, ao abordar essencialmente as transformações da língua,
divide-se em algumas partes. Pode-se dizer que as partes do texto se
caracterizam, respectivamente, por:
a)
ênfase no passado, exemplificação e ênfase no presente.
b) introdução, desenvolvimento e conclusão.
c) predomínio da descrição, da narração e
da dissertação.
d) desenvolvimento da argumentação e da
contra-argumentação.
Questão 07
A
hipérbole é uma figura de linguagem que consiste no exagero. O fragmento que
melhor exemplifica a hipérbole é:
a)
“[...] a
escola gosta de enxugar gelo.” (linha 16)
b) “[...] a escrita é muito (muito mesmo)
conservadora.” (linha 20-21)
c) “As gramáticas dizem que é.” (linha 36)
d) “[...] e a escola exige dele o comportamento
de um profissional do século passado com residência em Lisboa.” (linha 21-22)
Questão 08
Nesse
texto, a tese está melhor expressa em:
a) “Todos sabem que as
línguas mudam.” (linha 1)
b) “A escola está aí para, supostamente,
educar.“ (linha 13)
c) “É mais fácil aceitar as mudanças quando
elas ocorrem sem que se perceba [...]” (linha9)
d) “Já se sabe que se aprende uma língua
falada sem estudá-la [...]” (linha 17)
Questão 09
“Estou dando toda esta volta para
preparar um pequeno comentário sobre um fato que anotei lendo “O Estado de S.
Paulo”. Trata-se de um jornal conservador não só na política, mas também,
talvez principalmente, na linguagem. Pois foi exatamente no editorial do dia
11/03/2000 que, comentando o comportamento dos juros americanos e a política
recente da OPEP, ambos com reflexos no nosso bolso, o vetusto jornal escreveu
que “o aquecimento excessivo da economia americana faz ele perder o sono com
ameaça de inflação” (ele, no caso, é Alan Greenspan).”
A
passagem apresentada revela uma estratégia de argumentação específica. A
alternativa que possui a estratégia em questão é:
a) Enumeração.
b) Definição.
c) Alusão histórica.
d) Exemplificação.
Questão 10
“Trata-se de um jornal conservador não só na política, mas também, talvez
principalmente, na linguagem.”
A
substituição da expressão conectiva destacada não acarreta alteração de valor
semântico em:
a) Trata-se de um
jornal conservador na política e, talvez, na linguagem.
b) Trata-se de um jornal conservador não só
na política, contudo na linguagem.
c) Trata-se de um jornal conservador tanto na
política quanto na linguagem.
d) Trata-se de um jornal conservador na
política como na linguagem.
COM BASE NO TEXTO ABAIXO, RESPONDA ÀS
QUESTÕES DE NÚMEROS 11 A
13
Texto 3
brasil
O
Zé Pereira chegou de caravela
E preguntou pro guarani da mata virgem
— Sois cristão?
— Não. Sou bravo, sou forte, sou filho da Morte
Teterê Tetê Quizá Quizá Quecê!
Lá longe a onça resmungava Uu! ua! uu!
O negro zonzo saído da fornalha
Tomou a palavra e respondeu
— Sim pela graça de Deus
Canhém Babá Canhém Babá Cum Cum!
E fizeram o Carnaval
E preguntou pro guarani da mata virgem
— Sois cristão?
— Não. Sou bravo, sou forte, sou filho da Morte
Teterê Tetê Quizá Quizá Quecê!
Lá longe a onça resmungava Uu! ua! uu!
O negro zonzo saído da fornalha
Tomou a palavra e respondeu
— Sim pela graça de Deus
Canhém Babá Canhém Babá Cum Cum!
E fizeram o Carnaval
(Andrade,
Oswald. Poesias reunidas. 5ª ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978)
Questão 11
O poema de Oswald de Andrade remonta um
momento específico na história do Brasil.
O único verso que corresponde
explicitamente à afirmação acima é:
a)
“Canhem Babá Canhem Babá Cum Cum!” (linha 10).
b) “
¾ Não. Sou bravo, sou forte, sou filho da Morte” (linha 4).
c)
“Zé Pereira chegou de caravela” (linha 1).
d)
“E fizeram o carnaval” (linha 11).
Questão 12
Existem no poema diferentes mecanismos de
coesão que retomam termos anteriormente citados.
No fragmento “E fizeram o carnaval”, temos um desses mecanismos que é
caracterizado como:
a) Repetição.
b)
Substituição.
c)
Elipse.
d) Pronominalização.
Questão 13
“brasil” apresenta uma visão irônica da
formação cultural de nosso país, que é reforçada pela utilização da variedade
lingüística popular. Sendo assim, é possível afirmar que:
a)
para o autor, a cultura brasileira é fruto do cruzamento de vários grupos
étnicos.
b) o
carnaval é a expressão máxima de nossa cultura.
c)
para o autor, a cultura do país não pode ser considerada legítima.
d) o
carnaval em nada se relaciona com a formação histórica.
COM BASE NO TEXTO ABAIXO, RESPONDA ÀS
QUESTÕES DE NÚMEROS 14 E 15
Texto 5
Disponível
em: http://educar.files.wordpress.com/2007/01/mafalda.jpg. Acesso em 08
setembro 2008.
Questão 14
Sobre a tira acima, é possível afirmar que:
a) Há forte crítica
ao papel desempenhado pelos educadores.
b) As crianças
parecem ter consciência dos mecanismos que a escrita exige.
c) A noção de
escola presente no texto 4 é a mesma que podemos depreender do texto 2.
Questão 15
No
primeiro quadrinho do texto 5,
a personagem Mafalda emprega um pronome oblíquo átono,
cujo valor sintático é o mesmo do pronome pessoal reto “ele” em “o aquecimento
excessivo da economia americana faz ele perder o sono com ameaça de inflação”,
retirado do texto 2. Tal valor pode ser determinado como:
a)
complementação verbal.
b)
complementação nominal.
c)
verbo pronominal.
d) adjunto adnominal.
a) “Canhem Babá Canhem Babá Cum Cum!” (linha 10).
b) “ ¾ Não. Sou bravo, sou forte, sou filho da Morte” (linha 4).
b) Substituição.
b) o carnaval é a expressão máxima de nossa cultura.
Texto 5
b) As crianças parecem ter consciência dos mecanismos que a escrita exige.
b) complementação nominal.
GABARITO
ResponderExcluir1. D
2. A
3. B
4. C
5. D
6. B
7. D
8. C
9. D
10. C
11. C
12. C
13. A
14. C
15. A