Simulado UERJ - 2

Crise: essa é uma palavra que assola a humanidade desde longa data. Crise existencial, crise financeira, crise política... Essas são apenas alguns de seus tipos. Todas elas geram o medo e a incerteza perante o futuro. Estará o homem condenado a viver constantemente com medo? Há esperanças?

COM BASE NO TEXTO ABAIXO, RESPONDA ÀS QUESTÕES DE NÚMEROS 01 A 05

Texto 1
CRISE E CONSEQUÊNCIA
        


          “Crise” e “oportunidade” são representadas pelos mesmos ideogramas chineses, como se ouve muito em palestras inspiradoras para empresários. Segundo a velha sabedoria chinesa, o azar de uns pode ser a sorte de outros, o que para uns é desastre para outros é benção.
5
          Quando querem dar uma idéia da crise econômica na Alemanha durante a República de Weimar, sempre recorrem a mesma imagem: a hiperinflação era tamanha que, para se comprar um pão na padaria, era preciso levar marcos no carrinho de mão. O valor de tudo era medido em carrinhos de mão cheios de marcos, e eram necessários cada vez mais carrinhos de mão para carregar os marcos cada vez mais desvalorizados. Pode-se imaginar os carrinhos de
10
mão engarrafando o trânsito nas ruas de Berlim. E todos se queixando da situação,dizendo que

aquilo não podia continuar, que era preciso um governo forte para acabar com aquilo, que assim não dava mais, etc.

         Todos menos o Kurt. O Kurt estava feliz. Enquanto à sua volta os outros perdiam dinheiro e se lamentavam, o Kurt prosperava e exultava.Sua pequena indústria crescera, e não
15
parava de crescer. Em vez de desempregar, Kurt empregava. E enriquecia em meio à crise. Como aquilo era possível?

          Kurt, claro, tinha a única fábrica de carrinhos de mão da Alemanha.
*****
          Li que em Nova York tem uma empresa prosperando como a de Kurt na parábola acima. Ela faz sacolas elegantes mas simples, de aspecto neutro e sem nenhuma inscrição, para subs-

20
tituir as sacolas que as lojas de grife davam para seus clientes levarem as compras. Assim os clientes podem andar nas ruas sem o risco de serem confundidos com banqueiros de Wall Street, ou suas mulheres, gastando suas gratificações imerecidas pagas pelo contribuinte, enquanto o contribuinte pena. Crise e oportunidade.

*****

          Na Idade Média era comum os padres mandarem os pecadores jogarem cinzas sobre a
25
cabeça, em sinal de contrição, depois de se confessarem. Desenvolveu-se um rido comércio de

cinzas na saída das igrejas. Em todos os últimos governos dos Estados Unidos tinha gente da financeira Goldman Sachs cuidando da economia. Um ex-diretor da Goldman Sachs, Henry Paulson, era o secretário do Tesouro do Bush quando a crise estourou. Receitou ajuda do governo  para  todos  os  bancos  combalidos,  menos para a Lehman Brothers, grande rival do
30
Goldman Sachs, que deixou quebrar.Agora o Goldman Sachs é o primeiro dos combalidos a de-

clarar que saiu da crise. Há quem diga que o primeiro dever de qualquer secretário do Tesouro americano, incluindo o do Baraca, é proteger o Goldman Sachs. Mas é o mesmo tipo de gente maliciosa que desconfiava que a igreja lucrava com o comércio de cinza.

(VERÍSSIMO, Luís Fernando. O GLOBO, 19 de abril de 2009)

Questão 01
O vocábulo destacado pode ser substituído pela palavra indicada, sem que haja alteração de sentido em:

a) “[...] o que para uns é desastre para outros é benção.” (linha 4) – acidente
b) “Mas é o mesmo tipo de gente maliciosa que desconfiava [...]” (linha 34) – má
c) “Enquanto à sua volta os outros perdiam dinheiro e se lamentavam [...]” (linha 14) – desperdiçavam
d) “[...] os padres mandarem os pecadores jogarem cinzas sobre a cabeça, em sinal de contrição [...]” (linha 25) – arrependimento

Questão 02
Na composição da crônica argumentativa, certos elementos lingüísticos explicitam circunstâncias diversas, imprimindo coerência ao texto.
O fragmento que apresenta um desses elementos sublinhados e a circunstância por ele expressa é:

a) “Enquanto à sua volta os outros perdiam dinheiro e se lamentavam, o Kurt prosperava e exultava.” (linha 13) - tempo
b) “Quando querem dar uma idéia da crise econômica na Alemanha [...]” (linha 5) – concessão
c) “Sua pequena indústria crescera, e não parava de crescer.” (linhas 14-15) – ênfase
d) “Mas é o mesmo tipo de gente maliciosa que desconfiava que a igreja lucrava com o comércio de cinza.” (linha 34) - explicação

Questão 03
A principal tese que o enunciador parece defender está melhor formulada na seguinte alternativa:

a) As conseqüências da crise criam oportunidades para muitas pessoas, embora nem todos saibam aproveitá-las.
b) Existem pessoas oportunistas que fazem da crise um meio de obter benefícios que apenas contribuem para o bem delas mesmas.
c) A crise não deve ser vista apenas pelo lado negativo, pois algumas conseqüências são positivas para investidores.
d) A corrupção entre governantes contribui de forma significativa para o aumento da crise.

Questão 04
Na crônica, o autor faz considerações sobre o modo de proceder de algumas “empresas” em meio a crise. Para demonstrar sua opinião a respeito desse fato lingüístico, usa como recurso principal:

a) A apresentação de informações pressupostas ou subentendidas.
b) a citação de dados científicos e estatísticas.
c) o relato de exemplos e casos concretos.
d) a caracterização pormenorizada de personagens.

Questão 05
A crônica de Veríssimo é um relato bem-humorado acerca da crise econômica mundial. A frase que melhor sintetiza as idéias desse relato é:

a) “Agora o Goldman Sachs é o primeiro dos combalidos a declarar que saiu da crise.” (linhas 30-31)
b) “Li que em Nova York tem uma empresa prosperando como a de Kurt na parábola acima.” (linha18)
c) “’Crise’ e ‘oportunidade’ são representadas pelos mesmos ideogramas chineses [...]” (linha 1)
d) “Segundo a velha sabedoria chinesa, o azar de uns pode ser a sorte de outros [...]” (linhas 2-3)


COM BASE NO TEXTO ABAIXO, RESPONDA ÀS QUESTÕES DE NÚMEROS 06 A 10

Texto 2
VIDAS SECAS
(FRAGMENTO)
5

         
           Fabiano ia satisfeito. Sim senhor, arrumara-se. Chegara naquele estado, com a família morrendo de fome, comendo raízes. Caíra no fim do pátio, debaixo de um juazeiro, depois tomara conta da casa deserta. Ele, a mulher e os filhos tinham-se habituado à camarinha escura, pareciam ratos — e a lembrança dos sofrimentos passados esmorecera.
           Pisou com firmeza no chão gretado, puxou a faca de ponta, esgaravatou as unhas sujas. Tirou do aio um pedaço de fumo, picou-o, fez um cigarro com palha de milho, acendeu-o ao binga, pôs-se a fumar regalado.



         — Fabiano, você é um homem, exclamou em voz alta.
10
          Conteve-se, notou que os meninos estavam perto, com certeza iam admirar-se ouvindo-o falar só. E, pensando bem, ele não era homem: era apenas um cabra ocupado em guardar coisas dos outros. Vermelho, queimado, tinha os olhos azuis, a barba e os cabelos ruivos; mas como vivia em terra alheia, cuidava de animais alheios, descobria-se, encolhia-se na presença dos brancos e julgava-se cabra.

15
         Olhou em torno, com receio de que, fora os meninos, alguém tivesse percebido a frase imprudente. Corrigiu-a, murmurando:

         — Você é um bicho, Fabiano.

         Isto para ele era motivo de orgulho. Sim senhor, um bicho, capaz de vencer dificuldades.
20
         Chegara naquela situação medonha — e ali estava, forte, até gordo, fumando o seu cigarro de palha.
         — Um bicho, Fabiano.
25
         Era. Apossara-se da cãs porque não tinha onde cair morto, passara uns dias mastigando raiz de imbu e semente de mucunã. Viera a trovoada. E, com ela, o fazendeiro, que o expulsara. Fabiano fizera-se desentendido e oferecera os seus préstimos, resmungando, coçando os cotovelos, sorrindo aflito. O jeito que tinha era ficar. E o patrão aceitara-o entregara-lhe as marcas de ferro.

         Agora Fabiano era vaqueiro, e ninguém o tiraria dali. Aparecera como um bicho, entocara-se como bicho, mas criara raízes, estava plantado. Olhou os quipás, os mandacarus e os xique-xiques. Era mais forte que tudo isso, era como os catingueiras e as baraúnas. Ele, Sinhá vitória, os dois filhos e a cachorra Baleia estavam agarrados à terra.
30
          Chape-chape. As alpercatas batiam no chão rachado. O corpo do vaqueiro derreava-se, as pernas faziam dois arcos, os braços moviam-se desengonçados. Parecia um macaco.

35
         Entristeceu. Considerar-se plantado em terra alheia! Engano. A sina dele era correr mundo, andar para cima e para baixo, à toa, como judeu errante. Um vagabundo empurrado pela seca. Achava-se ali de passagem, era hóspede. Sim senhor, hóspede que demorava demais, tomava amizade à casa, ao curral, ao chiqueiro das cabras, ao juazeiro que os tinha abrigado uma noite.



(RAMOS, Graciliano. Vidas secas. São Paulo: Martins Fontes, 1970, p.53-55)

Questão 06
O texto de Graciliano Ramos, ao abordar essencialmente o tema da seca, apresenta personagens que se identificam com a vida animal, revelando a falta de crescimento humano como conseqüência da seca. É o que podemos observar em Fabiano. O trecho que melhor explicita a crise existencial vivida por este personagem é:

a) “A sina dele era correr mundo, andar para cima e para baixo, à toa, como judeu errante.” (linhas 32-33)
b) “— Fabiano, você é um homem, exclamou em voz alta. [...] E, pensando bem, ele não era homem: era apenas um cabra ocupado em guardar coisas dos outros.” (linhas 8-11)
c) “Ele, a mulher e os filhos tinham-se habituado à camarinha escura, pareciam ratos — e a lembrança dos sofrimentos passados esmorecera.” (linhas 3-4)
d) “Chape-chape. As alpercatas batiam no chão rachado. O corpo do vaqueiro derreava-se, as pernas faziam dois arcos, os braços moviam-se desengonçados. Parecia um macaco.” (linhas 31-31)

Questão 07
A metáfora é uma figura de linguagem que consiste numa comparação implícita. O fragmento que melhor exemplifica a metáfora é:

a) “Parecia um macaco.” (linha 31)
b) “Agora Fabiano era vaqueiro [...] (linha 26)
c) “Aparecera como um bicho [...]” (linha 26)
d) “— Um bicho, Fabiano.” (linha 20)

Questão 08
Era. Apossara-se da cãs porque não tinha onde cair morto, passara uns dias mastigando raiz de imbu e semente de mucunã. Viera a trovoada. E, com ela, o fazendeiro, que o expulsara. Fabiano fizera-se desentendido e oferecera os seus préstimos, resmungando, coçando os cotovelos, sorrindo aflito. O jeito que tinha era ficar. E o patrão aceitara-o entregara-lhe as marcas de ferro
No período acima, os pronomes pessoais “o” e “lhe” estão sendo empregados como um mecanismo de coesão. Nesse sentido, exercem uma função anafórica ao referirem-se, respectivamente, aos seguintes termos:

a)    “Fabiano” e “préstimos”
b)    “Fabiano” e “fazendeiro”
c)    “Fabiano” e “Fabiano”
d)    “fazendeiro” e “Fabiano”

Questão 09
“Chegara naquele estado, com a família morrendo de fome, comendo raízes. Caíra no fim do pátio, debaixo de um juazeiro, depois tomara conta da casa deserta. Ele, a mulher e os filhos tinham-se habituado à camarinha escura, pareciam ratos — e a lembrança dos sofrimentos passados esmorecera.”
No período acima, o termo destacado exerce função anafórica ao referir-se a família. Trata-se, nesse caso, de um mecanismo de coesão por:

a) Referência demonstrativa.
b) Pronominalização.
c) Elipse.
d) Substituição.

COM BASE NO TEXTO ABAIXO, RESPONDA ÀS QUESTÕES DE NÚMEROS 10 A 13

Texto 3

CONGRESSO INTERNACIONAL DO MEDO

1
Provisoriamente não cantaremos o amor,
2
que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
3
Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços,
4
não cantaremos o ódio porque esse não existe,
5
existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,
6
o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,
7
o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,
8
cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,
9
cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte,
10
depois morreremos de medo
11
e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas.

(ANDRADE, Carlos Drummond de. Antologia poética: organizada pelo autor. 56ª ed. Rio de Janeiro: Record, 2005.)

Questão 10
Sabe-se que a coesão utiliza diversos mecanismos para evitar a repetição e tornar um texto conciso. Contudo, em textos poéticos, a repetição pode ser utilizada para atender certos objetivos do enunciador.  No poema lido, podemos afirmar que a repetição da palavra medo:

a) tem por objetivo intensificar o medo sentido pelo eu-lírico.
b) contribuiu para o “apagamento” dos demais sentimentos presentes no texto.Trata-se de um jornal conservador não só na política, contudo na linguagem.
c) chama a atenção do enunciatário, revelando tal sentimento como uma constante na vida do homem tal como o é no poema.
d) pouco contribui para a sonoridade do texto.

Questão 11
A concisão é uma das características que mais se destacam na estrutura do poema. Essa concisão pode ser atribuída a:

a) pouca ausência de conectivos, explorando a sonoridade do poema
b) pouco uso de metáforas, enfatizando a fragmentação dos versos.
c) abrupta mudança de versos, reforçando a lógica das idéias.
d) utilização de vírgulas, coordenando termos que desempenham a mesma função no verso.

Questão 12
“e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas.” (linha 11)
Sobre este verso podemos inferir que:

a) o eu-lírico apresenta uma visão transcendente acerca do medo.
b) a morte parece ser a única solução possível ao homem que deseja não mais ter medo.
c) “flores amarelas e medrosas” alude a uma visão pessimista do eu-lírico.
d) a morte representa uma visão trágica do medo.

COM BASE NO TEXTO ABAIXO, RESPONDA ÀS QUESTÕES DE NÚMEROS 13 A 15

Texto 4



Disponível em: http://www.panoramablogmario.blogger.com.br/crise_simon.jpg. Acesso em 23 maio 2009.

Questão 13
A charge lida, de Simon, apresenta o quadro “O grito”, do pintor expressionista Munch, em um segundo plano. O efeito de humor é resultado:

a) da relação intertextual estabelecida entre a fala do presidente, presente no primeiro plano, e o quadro expressionista ao fundo.
b) da relação intertextual estabelecida pelas imagens presentes no primeiro plano e o quadro presente no segundo plano.
c) da releitura de “O grito” feita pelo chargista.
d) da fala do presidente reproduzida na charge em contraponto com sua aparente tranqüilidade.

Questão 14
“Companheiros, me acreditem: não há razão para pânico.”
O vocábulo destacado pode ser substituído pela palavra indicada, sem que haja alteração de sentido por:

a) alarde
b) confusão
c) pavor
d) preocupação

Questão 15
Com relação à charge, podemos afirmar que:

a) o elemento verbal presente na charge ganha força graças aos elementos visuais presentes no texto.
b) há uma forte crítica ao descaso dos governantes.
c) a presença do quadro expressionista é pouco relevante para a compreensão da charge.
d) a utilização da linguagem informal também é de fundamental importância para a criação do humor.

Comentários

Postar um comentário

Postagens mais visitadas